segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

TOM WAITS NÃO TEM UM DISCO DE NATAL


Asylium Records - ASY 53099 (1978)

Side 1

Somewhere – Red Shoes by the Drugstore – Christmas Card from a Hooker in Minneapolis – Romeo Is Bleeding - $29.00

Side 2

Wrong Side of the Road - Whistlin Past the Graveyard – Kentucky Avenue – A Sweet Little Bullet From a Pretty Blue Gun – Blue Valentines

Tom Waits é um rapaz muito cá de casa.

Uma voz que, segundo a revista Rolling Stone, tem alcatrão suficiente para asfaltar uma auto estrada inteira.

Ele acrescentaria que Tom Waits tem, na sua voz, nos seus poemas, uma força e um encanto capazes de abalar túmulos.

Gosta de todos os seus discos e tem sempre muita dificuldade em explicar como este cúmplice da noite lhe provocou a doce mania de ficar dependente das suas canções.

Só tenho problemas com o álcool quando já não tenho mais nada para beber.

E põe-se denunciar o piano, em alto e bom canto, que é ele que está bêbado e mais ninguém, ou dizer com uma voz, condoída de noites sem sono, de que nunca conheci uma mulher como tu e a gente, do lado de cá do gira-discos, a saber que ele já conheceu mais de mil.

Tanto quanto sabe, Tom Waits não tem um disco de Natal, e que bem que isso lhe assentaria, mas conhece duas canções, pelo menos, que a sua boa vontade vai considerar serem de Natal.

Uma é «Innocent When You Dream» do álbum «Franks Wild Years» e que faz parte da banda sonora de «Smoke», filme de Wayne Wang e Paul Auster.

Outra é «Christmas Postcard From A Hooker In Minneapolis», do álbum «Blue Valentine».

Desta se transcreve a letra, com tradução de João Lisboa, retirada de «Nocturnos», edição bilingue, publicado pela Assírio & Alvim e que, para além da tradução dos poemas, tem uma muito interessante entrevista com Tom Waits.

Postal de Natal De Uma Puta Em Minneapolis

Olá Charley, estou grávida
E a viver na rua 9
Mesmo por cima de uma livraria nojenta
À beira da Euclid Avenue
Deixei de meter droga
E parei de beber Whisky
O meu homem toca trombone
E trabalha no caminho de ferro

Ele diz que gosta de mim
Ainda que o bebé não seja dele
Diz que o vai criar como a um verdadeiro filho
Ofereceu-me um anel que a mãe costumava usar
E sai comigo para dançar
Todos os sábados à noite.

E Charley, penso sempre em ti
Todas as vezes que passo numa bomba de gasolina
Por causa da brilhantina que usavas no cabelo
E ainda tenho aquele disco de Little Antony e os Imperials
Mas roubaram-me o gira-discos
O que é que se há-de fazer?...

Olha Charley, quase dei em doida
Quando o Mário foi de cana
Por isso voltei para Omaha
Para viver com os meus velhos
Mas toda a gente que eu conhecia
Ou morreu ou estava presa
Então voltei para Minneapolis
E desta vez penso que vou ficar por cá

Sabes Charley, pela primeira vez desde o acidente
Parece-me que sou feliz
Só queria ter agora todo o dinheiro
Que costumávamos gastar em droga
Comprava um parque de carros usados
E não vendia nenhum
Para usar um diferente em cada dia
A condizer com a maneira como me sentisse

Oh Charley, por amor de Deus, queres saber toda a verdade?
Não tenho nenhum marido
Ele não toca trombone
E preciso de dinheiro emprestado
Para pagar ao advogado
E, olha, Charley, devo sair com pena suspensa
No dia de S. Valentim.

Texto de Gin-Tonic

Sem comentários: