sábado, 27 de fevereiro de 2016

ROLLING STONES NO BRASIL, 2016



Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã), 20 de Fevereiro de 2016


Ouvi dizer que eram intermináveis as filas para entrar.

Ouvi dizer que chovia a cântaros.

Ouvi dizer que o Ultraje a Rigor, banda de abertura, sofreu com problemas de som e alguma hostilidade do público.

Apenas ouvi dizer.

No VIP Lounge montado no interior do recinto, não muito longe dos camarins dos artistas, eu permanecia protegido da realidade exterior, vagueando num limbo regado a champanhe e habitado pelas mais variadas espécies stonianas - Luciana Gimenez e seu séquito, fãs do grau-camisa-de-
forças, e groupies-book-rosa de uma beleza inaudita.

O champanhe foi direto à cabeça!

Porém, apesar de notoriamente toldado pelo Moët & Chandon, posso afiançar que uma coroa-platinada-de-luxo-asiático sussurrou-me ao ouvido “quero conhecer você melhor”; que uma black-magic-woman procurava avidamente simpatia e cocaína; que os notáveis músicos Darryl Jones, Bernard Fowler, e Tim Ries, fazem uma boa sala; que Lucas Jagger é realmente a cara do pai; que o argentino Marcelo Sonaglioni e o carioca Nélio Rodrigues são os melhores companheiros de rota do universo!

Esgotadas as duas horas de convívio VIP, estando iminente o início do show, uma menina da produção conduziu-nos a todos por área restrita até à frente do palco, sem filas, chuva ou outros ultrajes. E já não havia champanhe que me toldasse a consciência. Lembro-me claramente de ter entrado numa cápsula do tempo capaz de me transportar por uma extraordinária viagem de som e luz.

A verdade: os Rolling Stones estão melhores.

Dez anos após o lendário concerto na praia de Copacabana, para mais de 1 milhão de pessoas, os Rolling Stones exibem o mesmo carisma, a energia de sempre, logrando  acrescentar  a tudo isso uma precisão musical nunca antes vista.

No palco, a inspiração frenética, perfeita, de Mick Jagger; a batida concisa, sem peias, de Charlie Watts; a versatilidade sábia de Ronnie Wood; o poder demolidor, renascido, de Keith Richards.

Momentos altos?... difícil de eleger... tudo bem, farei um esforço... Out Of  Control, versão pejada de novas e brilhantes nuances... Paint It Black, mortífera, com uma entrada de levantar mortos... You Got The Silver, tocante e perfeita no slide acústico de Ronnie... Before They Make Me Run, a melhor versão de sempre, incluindo bootlegs... Gimme Shelter, que tensão, senhores!...

Foi o meu décimo quinto show dos Stones, de 1982 a 2016, e nunca os escutei de uma forma tão concisa e certeira. Som de excelência e execução musical intocável,  sem nunca perder aquela característica humana, falível, marca registada da banda. Keith Richards, em particular, contra todas as previsões biológicas, renasceu das cinzas.

Aliás, custa a acreditar que aqueles músicos em palco são os mesmos quatro sobreviventes de décadas e décadas de terrível turbulência... mortes, prisões, Altamont, drogas, Toronto, etc, etc, etc...

Ouvi dizer que os Stones não voltam mais.

Ouvi dizer que voltam daqui a dez anos.

Ouvi dizer que são um fenómeno da natureza.

Apenas ouvi dizer.

Pedro de Freitas Branco, do Rio de Janeiro

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