"Lembro-me que um tipo de 20 anos, José Jorge Rocha, há dois anos a trabalhar nos escritórios dos laboratórios Medicamenta, em Lisboa, foi para a rua por andar com os cabelos grandes (cobriam as orelhas). Tinha havido aviso do chefe: "Tem de cortar o cabelo". Nada. Foram ao gabinete do director: "Ou corta o cabelo ou é despedido". Há dez anos que os Beatles eram sucesso em Portugal: "Então, sou despedido", disse o José Jorge, que só teve tempo de ir buscar os pertences à secretária. Os jornis falaram dele um bocadinho. (Muitos anos depois, ele contou-me: "Quando saí, despedido, entrei, nem 50 metros depois, no barbeiro, para cortar o cabelo. Porque queria").
"Lembro-me Que", Ferreira Fernandes, Quetzal, 2014
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