sexta-feira, 25 de abril de 2014

AQUI POSTO DE COMANDO DAS FORÇAS ARMADAS


A canção de Paulo de Carvalho "E Depois do Adeus", lançada para o ar pelo Rádio Graça na noite de quarta-feira, foi o signo que pôs em movimento todo o processo das Forças Armadas.

Mais tarde, já quinta-feira, 25 de Abril, "Grândola Vila Morena" confirmava através das ondas do Rádio Renascença a irreversibilidade do processo desencadeado. Tudo isto estava ainda no segredo dos deuses.


Só mais tarde, cerca das 04H30 da manhã do dia da queda, as pessoas seriam subitamente acordadas pelo primeiro comunicado das forças revoltosas, emanado pela voz do redactor-noticiarista Joaquim da Silva Furtado, "agradavelmente surpreendido por certo", como nos diria Luís Filipe Costa, com o que lhe acontecia e ao País, finalmente libertado depois de 48 anos de sofrimento sob a ditadura do Estado Novo.

Nem todos estariam acordados a essa hora, mas, de casa em casa, a nova caiu célere: as armas dos soldados portugueses haviam-se levantado contra o tiran
o.

(...)

Joaquim Furtado: Estava a fazer o noticiário das 4 quando entrou um capitão que com toda a gentoleza me informou tratar-se de um golpe de Estado. E depressa se estabeleceu a compreensão entre mim e eles. Depois, perguntaram-me se estaria disposto a ler os comunicados. Claro que estava, enquanto ia vindo em mim uma certa surpresa. É que, embora aquilo que estava a acontecer viesse ao encontro de uma esperança de muitos anos, era uma esperança remota.

Luís Filipe Costa: Vim pôr a minha colaboração ao serviço do Movimento. Prtendia também evitar que outros camaradas se comprometessem mais, pois não sabíamos ainda se o processo poderia vir a ser contestado. Mas todos os outros foram foram aparecendo depois voluntariamente. Todos queriam ler os comunicados e assim aconteceu. Até Clarisse Guerra e o José Freire que não pertencem aos noticiários e são locutores de cabina.

José Ribeiro: Das 7 e 30 às 14 e 30 passei todos os discos proibidos. Para mim, foi uma alegria enorme o que aconteceu. O meu avô foi deportado pelo regime fascista que agora caiu e o meu pai foi morto por eles.

(...)


Às 21 e 45, o RCP passava a transmitir em simultâneo com a Rádio Renascença e os Emissores Associados todos os comunicados. A Emissora Nacional, segura da sua importância como órgão de repressão fascista, recusar-se-ia de início a entrar na cadeia de transmissão, só o vindo a fazer às 23 e 15.


Cinéfilo, 4 de Maio de 1974

Cortesia de Gin-Tonic

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