quinta-feira, 18 de outubro de 2012

IF A FIDDLER PLAYED YOU A SONG MY LOVE



O disco fora publicado em 1967, mas não sei precisar em que altura do ano.

Por isso, o mais certo era que se tratasse da Páscoa de 1968.

Se assim tivesse sido, enquanto os nossos colegas estudantes em França se ocupavam com as suas lutas, a nossa guerra era outra…

Passávamos aquelas tardes de férias da Páscoa em casa a jogar às cartas, matraquilhos, damas, xadrez e outras ocupações lúdicas do mesmo estilo, mas tudo não passava de um pretexto para irmos ouvindo a música que suavemente escorregava pelo gira-discos.

A Mãe do meu amigo João Pedro admirava-se com a nossa capacidade para deitar abaixo as saborosas amêndoas pequeninas que ela nos deixava, e todos os dias ao final da tarde a víamos regressar do trabalho e atestar, com visível satisfação, o frasquinho transparente onde as depositava.

Longe andava ela de sonhar que a maior parte das ditas não acabava os seus dias no nosso estômago, mas sim no meio da rua, porque o meu amigo se entretinha a fazer, do alto daquele 5º andar, tiro ao alvo à cabeça dos pobres transeuntes que tinham a infeliz ideia de passar por debaixo daquele prédio da Avª Visconde Valmor.

E longe andava eu também de imaginar que aquele disco que passava vezes sem conta – “Goodbye And Hello”, de Tim Buckley – haveria de me acompanhar pelo resto da minha vida.

E que aquela música em especial – “Phantasmagoria In Two” – haveria de se tornar uma das músicas da minha Vida, daquelas que irei colocar na banda sonora da minha Morte se vier a ter tempo para isso, o que sinceramente desejo que não suceda, porque secretamente espero que a coisa seja rápida e repentina…

Everywhere there’s rain my love
Everywhere there’s fear

Não, não se trata de Portugal nos dias de hoje…

Era Tim Buckley, no final dos anos 60…

Colaboração de Luís Mira

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