domingo, 30 de setembro de 2012

IMPORTÂNCIAS QUE SE JUNTAM


O primeiro disco de Crosby, Stills & Nash, ainda sem o Neil Young, teria sido lançado há muito pouco tempo, pelo que estaríamos, seguramente, no Verão de 1969, andaria eu pelos meus 15 anos, a caminho dos 16.

O destino era Almoçageme, onde os Pais do meu Amigo tinham uma casa de praia e onde nos esperava um fim-de-semana recheado de mergulhos na água gelada da Praia da Adraga, bem como uma série de aventuras adolescentes a subir e a descer essas perigosas arribas.

Estávamos parados na esquina da Visconde Valmor com a Marquês de Sá da Bandeira, à espera que a Mãe do meu Amigo se despachasse da farmácia que então lá existia, e penso que ainda existe.

Como já passava das 7 da tarde o rádio do Renault 16 estava, como sempre, sintonizado no “Em Órbita”.

O locutor de serviço – que já não me lembro quem era (provavelmente Cândido Mota - nota do editor) – faz a apresentação do próximo artista e remata da seguinte forma: “Crosby, Stills & Nash”: importâncias
que se juntam”.

Tanto bastou para fazer saltar o Pai do meu Amigo, sempre pronto a criticar aquilo que ele considerava ser a linguagem pretensiosa dos locutores do “Em Órbita”:

“Importâncias que se juntam…! Que significado é que isto tem…? Paleio de chacha é o que é…!”.

O meu Amigo, que gostava muito de se picar com o Pai à mais pequena oportunidade, lá lhe explicou, com uma muito exagerada erudição, quem eram e de onde vinham David Crosby, Stephen Stills e Graham Nash e não deixou de aproveitar para lhe saltar em cima, à boa maneira do Rei de Espanha: “Se o Pai não sabe do que fala, porque não fica calado em vez de se meter onde não é chamado…?”.

O Pai do meu Amigo, que era um bonacheirão, não acusou a estocada e lá continuou a rir-se e a meter-se connosco: “Pois, pois, estou a perceber… Orquestra Filarmónica de Berlim, importâncias que se juntam… Sport Lisboa e Benfica, importâncias que se juntam…!!!”.

Mas vá lá saber-se porque me fui lembrar eu desta história, mais de 40 anos depois. Talvez por gostar muito de todos os intervenientes, incluindo a Senhora que foi à farmácia e ficou fora do enquadramento. E, seguramente, por ter muitas saudades desses velhos tempos…

Colaboração de Luís Mira

4 comentários:

josé disse...

Há quem diga que 1969 foi o melhor ano da música popular de expressão anglófona.

Sendo assim muito terá sido o encanto em ouvir o Em Órbita da época.
Praticamente todos os meses havia novidades de relevo. Todos os meses ou todas as semanas.

Só me pergunto como é que estes discos chegavam até cá.
Ia falar na Censura, mas não o faço para não alimentar polémicas estéreis.

ié-ié disse...

Se bem me lembro, não havia Censura para estes discos. Quando chegavam, chegavam! Os coronéis não sabiam inglês. O problema era com os discos franceses...

LT

Queirosiano disse...

O problema do Em Órbita nunca foi tanto a Censura (embora o RCP, como todas as estações de rádio e a RTP, tivesse a sua Censura interna - que era zelosa, vesga e tacanha) mas a política caótica de importação/produção/distribuição discográfica.

Muitas discotecas tinham a sua importação privada, para não estarem dependentes das decisões das grandes distribuidoras, que sistematicamente arriscavam pouco.

No caso do Em Órbita, havia no inner circle gente que trabalhava na TAP e que trazia sistematicamente as novidades, praticamente mal elas saíam.

ié-ié disse...

Os próprios irmãos Gil não tinham família na TAP?

LT