sexta-feira, 22 de maio de 2009

JOÃO BÉNARD DA COSTA (1935-2009)


Hoje, pelas 21,30 horas a Cinemateca Nacional (Lisboa) exibirá “Johnny Guitar” de Nicholas Ray, um dos filmes da vida de João Bénard da Costa.

“Era inevitável. Tinha que ser. Se escrevo sobre “os filmes da minha vida”, como podia ficar de fora “o filme da minha vida”, my Johnny Guitar? Só mesmo quem não me conheça nem mais gordo nem mais magro, podia supor que um dia destes – mais cedo ou mais tarde – o “Johnny Guitar” não enchia esta página.

Faz parte das minhas lendas – como essa de dizer-se que eu sabia o “Larrousse” de cor aos sete anos – atribuírem-me centenas de de visões do “Johnny Guitar”. Num caso como outro há exagero. Só vi o “Johnny Guitar” 68 vezes, entre 1957 e 1988. Dá para saber de cor? Nunca se sabe o “Johnny Guitar” de cor. Cada vez é uma nova vez.” (1)

Diálogo de “Johnny Guitar”, filme de Nicholas Ray de 1954. O papel de Vienna é interpretado por Joan Crawford, o de Johnny Guitar por Sterling Hayden:

“Vienna – É uma história triste.

Johnny – Sou bom ouvinte de histórias tristes.

Vienna – Há cinco anos amei um homem. Não era bom nem mau, mas amava-o. Queria casar com ele, trabalhar com ele, construir algo para o futuro.

Johnny – Deviam ter vivido felizes para sempre.

Vienna – Mas não viveram. Acabaram tudo. Ele não se via preso a uma família.

Johnny – Parece que a rapariga foi esperta em livrar-se dele.

Vienna – Lá isso foi. Aprendeu a nunca mais amar ninguém.

Johnny – Cinco anos é muito tempo. Deve ter havido bastantes homens...

Vienna – Os suficientes.

Johhny – Que aconteceria se ele homem voltasse?

Vienna – Quando um fogo se extingue só restam cinzas.

Johnny – Quantos homens já esqueceste?

Vienna – Tantos quantas as mulheres de que te lembras.

Johnny – Não te vás embora.

Vienna – Nâo me mexi.

Johnny – Diz-me uma coisa bonita.

Vienna – Que queres ouvir?

Johnny – Mente-me. Diz-me que esperaste todos estes anos.

Vienna – Esperei todos estes anos.

Johnny – Que morrerias se eu não voltasse.

Vienna – Morreria se tu não voltasses.

Johnny – Diz-me que ainda me amas como eu te amo.

Vienna – Ainda te amo como tu me amas.

Johnny – Obrigado. Muito obrigado".

(1) De um texto publicado no “Independente” de 23 de Setembro de 1988 e incluído em “Os Filmes da Minha Vida, Os Meus Filmes da Vida” de João Bénard da Costa, Assírio e Alvim, Novembro 1990.

Colaboração de Gin-Tonic

3 comentários:

OF disse...

Grande senhor e excelente cronista e homem do cinema

Tenho o 1º volume do "Filmes da minha vida" e também já li o "Muito lá de casa"

Como Duarte d' Almeida (seu pseudónimo enquanto actor de cinema) tem um record pois esteve 16 anos sem actuar em qualquer filme após participar em "Lisboa" de Ray Milland

Que descanse e paz !

filhote disse...

Nesta época (1988), eu coleccionava todas as crónicas do Bénard da Costa. Excelentes. Destacava a página e arquivava-a num dossier (que ainda guardo, claro).

Um ano depois, curiosamente, teria o orgulho de escrever no Independente...

Luis Magalhães Pereira disse...

Foi uma das pessoas que mais peso teve na minha vida de Cinéfilo!

Passou a ser quase como um daqueles parentes longínquos com quem se está nas ocasiões festivas e que eu via e cumprimentava quando ia à Barata Salgueiro ( a minha 2ª casa) desde 1991...

Muito influenciado pelo cinema francês, a Nouvelle Vague e pelos Cahiers, admirava imensamente John Ford, Nicholas Ray e algum cinema americano, mas ainda assim tinha um gosto suficientemente ecléctico do qual beneficiavam todos os cinéfilos da Cinemateca.

Tinha uma voz... improvável!

Se ainda se pode autorizar a comparação, Bénard da Costa estava para o Cinema assim como Moniz Pereira está para o Atletismo!

Morreu um homem do Cinema, uma pessoa extraordinária, um homem de Cultura!

Obrigado João Bénard da Costa!