segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A PIOR GRAVAÇÃO DE 1970


I.R.S. - ILSA 650974 7 - reedição portuguesa (1987)

In The Summertime - Got A Job

Não entraremos este ano na explicação fastidiosa dos argumentos que nos levaram à escolha da pior gravação.

As razões repetem-se duma forma já quase rotineira.

Entre o vasto e tísico material publicado em 1970, a escolha tornou-se menos fácil, já que a competição ao gratuito se instalou nas mais estratégicas posições dos mercados de hoje.

Contudo, o aparecimento de esporádicos surtos do mais acabado mau gosto sempre vêm tornar um pouco mais fácil esta tarefa, que não é mais do que alertamento à existência de um fraudulento e interminável sistema onde se premedita a conquista dos favores de um público pouco ou mal esclarecido.

A pior gravação de 1970 é uma completa manifestação de incapacidade criadora, que assume um carácter particularmente perigoso dada a forma quase científica como explora o instituto deseducado dos que não sabem tomar opções.

Um registo que se afunda na cadência moribunda de um estertor pueril.

"In The Summertime", dos Mungo Jerry, é a pior gravação de 1970.

(do programa "Em Órbita").

11 comentários:

Rato disse...

Em 1970 apareceram coisas bem piores e medonhas do que esta. Mas como o tema até fez sucesso nos Hit Parades (uma das razões, se calhar mesmo a única, era ser um tema muito dançável nas festarolas), foi de imediato alvo da classificação pejorativa da elite do "Em Órbita" para assim o evidenciarem pela negativa.
É que se atribuissem a "distinção" a qualquer outro tema não muito conhecido (e acreditem que havia dezenas deles que o mereciam) as suas "sapiências" não se evidenciavam tanto.

Jack Kerouac disse...

Começo é a ver que esses indivíduos do "Em Órbita" eram um bocado para o esquisito, ou para o elitista.

josé disse...

In the Summertime, é delicioso. Um single perfeito, bem feito e de ritmo calipso-reggae-soul-pop.

Para mim, foi o single de 1970. E ainda houve Ma Belle amie, dos Tee Set e Venus dos Shocking blue.

Isso, para não falar no Yellow River dos Christie.

Claro que o Em Órbita era snob. O que só lhe ficava bem, na época.

Mesmo assim, o teste do tempo, não dá razão ao Em Órbita.

gin-tonic disse...

O "Em Orbita" é como o Eusébio: quem viu viu quem não viu não volta a ver, ou então serve-se da anárquica "RTP Memória". Se houvesse uma qualquer universidade futebolistica aquele Portugal Coreia no Mundial 66 era leitura obrigatória.
Penso que para o "em Órbita" é que não há grandes possibilidades de saberem o que aquilo era. Das coisas mais bonitas que me foi dado ouvir em rádio, um pontapé no mau gosto reinante, de que era frequentador. Um enorme grito no vazio de então e de que ainda sinto o eco.
O que eles eram?
Geniais cabotinos.
A vida também que ter dessa gente.
Felizmente!

JC disse...

S/ o "Em Órbita" já disse o que tinha a dizer e sabem a minha opinião. Repito: foi parte essencial na formação da minha personalidade, daquilo que sou e do modo como me comporto. Dos meus valores. Pergunto ao Rato: que tens contra as elites? Uma sociedade tb não se avalia pela qualidade das suas elites?
José: snob quer dizer "s/ nobreza" (senza nobilitá). Ora nobreza de carácter, de rigor e nas escolhas foi algo que nunca por lá faltou e tanta falta faz ao país ver repetido. Foi um excelente exemplo. Contra a corrente numa altura em que o rock era atacado à esqª e à direita, como se pode ver nas afirmaçõesde José Afonso noutro post.
S/ Mungo Jerry. Integro-os na chamada bubblegum music, e só como Tarantino recuperou o cinema série Z 30 anos depois, tornando-o de culto,talvez só hoje em dia sejamos tb capazes de fazer da bubblegum music música de culto.

Rato disse...

JC:
Não tenho nada contra as elites e por isso usei a palavra. Até que o dicionário on-line diz que significa "o que há de melhor numa sociedade ou num grupo". Por isso mesmo há que ouvir o que essas elites têm a dizer. Concordar ou não com o que elas dizem é que já é outra história.
Quanto à palavra snobe (sem o "e" final é inexistente na língua portuguesa), ela tem também outros significados: "pessoa servil por tudo o que está em voga ou pessoa que afecta de entendida e de fidalga").
Julgo que os opinadores do "Em Órbita" poderiam ser classificados como uma mistura dos dois substantivos. Mas de momento não me consigo lembrar de nenhuma palavra que englobe os dois conceitos.

JC disse...

Desculpa a falta do "e", mas esta minha mistura de raças e línguas baralha-me por vezes um pouco a escrita. E os acentos, esses, agradeço ao corrector automático.
Bom, na origem a palavra "snobe" (c/ ou sem "e") aplicava-se a quem não sendo aristocrata tentava simular os seus princípios e comportamentos, fazer-se passar por. Por isso, tornava-se ridícula. Daí o meu comentário!
O "Em Órbita" era um excelente programa, rigoroso, que não transigia. Uma pedrada no charco. Claro que tb tive c/ ele discordâncias... mas não houve nem tornou a haver outro igual. Hoje em dia diriam que era arrogante, pretencioso etc, etc. O que dizem de quem se destaca e foge ao "mainstream".

josé disse...

Desses programas snobs gostaria eu que houvesse mais.

Não me incomoda nada esse snobismo.

O último que existiu era o À sombra de Edison, com MEC e a Voz da rádio, João David Nunes ( juntamente com Jaime Fernandes, Adelino Cardoso e outros).

Por falar nisso, para quando um apanhado das Vozes do Rádio?

ié-ié disse...

De facto - e era aí que eu queria chegar - o teste do tempo pode ser muito cruel.

Ao ler hoje o texto do "Em Órbita" sobre "In The Summertime" não pode deixar de trazer ao de cima quão "elitistas" e quão "geniais cabotinos" eles eram.

E ao ler as declarações de José Afonso fica-se hoje com um nó da garganta.

LT

filhote disse...

Muito bom o teu comentário, Gin-Tonic... ehehehehehe!!!!!!

Edward Soja disse...

Que engraçado... (estou a comentar sem ter lido o que já outros amigos disseram aí para cima...) esse texto também aparece, julgo eu, num dos números do Mundo da Canção...

Mas ainda vi de relance umas palavras... sim, Yellow River... blaargh....
:)