terça-feira, 12 de agosto de 2008

BILHETES DA CARRIS


19 comentários:

gin-tonic disse...

Estou espantdo não serem capicuas. Tinha algumas, perdi-as à medida que fui fazendo limpeza às gavetas. O meu avô dizia que davam sorte! Nunca dei por isso.
Será que Mr. "Íé-Ié" não terá por aí um "bilhete-operário"? Coisas do outro século...

JC disse...

O meu avô materno trabalhava na "Tabaqueira", que na altura era no Beato, ou Poço do Bispo (nunca sei ordenar Xabregas, Beato, Poço do Bispo, Marvila e Braço de Prata). Toda a fábrica tinha o mesmo horário dos operários (normalmente começavam mais cedo, acho) e o meu avô, que morava no Alto de Santo Amaro, junto à Tapada da Ajuda, ia de eléctrico para o trabalho e comprava um bilhete-operário. Quando se reformou, no final dos anos 50 ou início dos anos sessenta do século passado (quando a "Tabaqueira" foi para Albarraque) já com setenta anos, o pessoal da fábrica ofereceu-lhe uma enorme salva de prata, um cinzeiro tb de prata e uma caravela em filigrana, com placas ou inscrições alusivas: "oferta do pessoal da fábrica "A Tabaqueira" ao Sr. fulano de tal quando da sua passagem à reforma". Conservo uma delas e as restantes estão com o meu irmão e uma prima. Outros tempos, de facto!

gin-tonic disse...

Estou a ver, JC, todo o trajecto do seu avô desde a Tapada da Ajuda até Marvila, que é como eu resumo tudo aquilo, a Azinhaga dos Alfinetes que eu subia, com o meu avô, para ir ver o Glorioso ao Campo Engº Carlos Salema, o campo do Oriental, Marvila onde havia o "Cinema Pátria". A Tapada da Ajuda as vezes que para ali fui, sempre com o meu avô, ver jogar o Glorioso com o Atlético na Tapadinha, o "Promotora" no Largo do Calvário. Os armazéns de ferro, as pequenas indústrias metalurgicas e outras que existiam ao longo da 24 de Julho e por aí fora, guindastes, as fragatas no Tejo. O Cais do Sodré com as suas agências de navegação, a camara de comércio do bacalhau do almirante Tenreiro, o "British-Bar, o relógio da Hora Legal, ponto de encontro da malta a caminho da Trafaria ou do Estádio Nacional sempre para ver ver o Glorioso. Também lá fui por um 1o de JUnho ver o Festival da Raça, como ainda gosta de dizer o professor Cavaco, mas isso é uma outra história que mete uns certos olhos verdes...
Mas - caramba! - o que um simples bilhete da CARRIS foi originar...






Enfim, o que o raio de um simples bilhete da CARRIs foi buscar...

JC disse...

O que é curioso é que a única vez que fui à Tabaqueira foi no... 10º aniversário do Frágil!, que nas antigas instalações da fábrica, há muito já desactivadas, o comemorou para aí em 91 ou 92. Mas lembro-me bem da Azinhaga dos Alfinetes quando ia ver o "Belém" a Marvila com o meu pai que era, como toda a família, do Belenenses (mas tb do Real Madrid, pois tinha nascido e vivido em Madrid). Aliás, foi com a minha mãe, casados há pouco tempo, de combóio a Madrid ver a inauguração do Estádio de Chamartin, como então se chamava, inaugurado com um R. Madrid-Belenenses em 1947 ou 48! O meu pai dizia que era preciso ter cuidado pois atiravam dejectos e percorrer a dita Azinhaga dos Alfinetes, a pé ou de carro em dia de jogo,constituia um sério risco!
Tb fui várias vezes à Promotora, ao cinema, 2 filmes por sessão. Teria uns 9 ou 10 anos e, por vezes, ainda ia passar fins de semana com os meua avós. Com essa idade,ia sózinho ao cinema o que penso hoje não acontece com esta geração! Ao Palatino, mais perto de casa dos meua avós, não estava autorizado a ir por ser considerado um cinema mais "rasca"... Uma tia-avó, irmã do meu avô, como sempre ficou solteira e preciava de se sustentar, era professora primária e dava aulas na escola do Lg. do Calvário. Enfim, saudosismos...

Mas o facto de a família do meu pai ser de origem estrangeira (o meu pai madrileno, filho de um português de origem maltesa e de uma francesa) e pouco ou nada afecta à ditadura safou-me pelo menos de 2 coisas: de ir ao dito Dia da Raça (nunca fui)e de frequentar o Colégio Militar, já que a tradição militar tem raízes na família da minha mãe.

E afinal, como funcionava o bilhete-operário?

Zeca do Rock disse...

Então e o bilhete verde de 5 tostões? O tal da anedota dos malucos e da piscina? Não tens? Que pena!...

gin-tonic disse...

Se houve quem tivesse dito que Paris valia bem uma missa eu entendia que aqueles olhos verdes mereciam bem uma ida ao Estádio Nacional ver o Festival de Ginástica
da Mocidade Portuguesa. Era um estratagema para as raparigas da época poderem sair de casa, num feriado, sem dar explicações… porque, diziam elas, o Festival fazia parte das actividades escolares… Coisa de tempos idos…
Também não serviu de muito… mais tarde os olhos verdes procuraram outros olhos que não os meus…
O bilhete-operário era vendido desde o inicio das carreiras até às 8 horas da manhã – não garanto a hora exacta - depois dessa hora não havia mais bilhete-operário, eram os bilhetes normais. Permitia que pudesse ser utilizado no regresso, ou seja: em vez de serem pagas duas viagens havia um desconto. Variedades de uma economia salazarista…

filhote disse...

Gin-Tonic, falando do nosso Glorioso, citou o histórico Oriental... e eu pergunto: quem era o famoso "Cruiff de Marvila"???

JC disse...

Era um tal Quim que jogava, salvo erro, a extremo. Mas, Filhote, isso já são tempos mais recentes.

gin-tonic disse...

Filhote: nunca ouvi falar no "Cruiff de Marvila". Estava inclinado a pensar que talvez seja Rogério Landes de Carvalho, mais conhecido por "Pipi" que, vindo do Chelas brilhou no Benfica. Aliás o Oriental é resultado da fusão de três clubes da zona: o Chelas, o Fósforos e o Marvilense. O Rogério acabou a sua carreira de futebolista justamente no Oriental Já agora: do Oriental para o Glorioso veio um defesa central de nome Alfredo, mais conhecido pelo
"Três Pés". Tinha um tasco ali na Morais Soares, acabavam os jogos na Luz e ele arrancava para o balcão do tasco e eram fortes e coloridas as discussões.Uma maravilha!

JC disse...

"Lembro-me do jogo contra o Sporting em que empatamos 0-0 e que poderiamos ter ganho, não fosse o Quim "Cruyff de Marvila" ter falhado em cima do risco de golo a bola subiu e foi à trave, o Saudoso Damas já no chão gritava "venham para a defesa Caralh....... Foi expectacular."

- Retirado de http://www.oriental.pt/conteudos/SystemPages/page.asp?art_id=10

gin-tonic disse...

JC: Há coisas levadas do diabo. Não me lembro rigorosamente nada do Quim, o "cruifft de Marvila" a jogar no Benfica e no entanto lembro coisas e nomes de muito lá para trás. Vai-me acontecendo, os meus filhos dizem que devia tomar previdências, mas vou concluindo que as coisas são mesmo assim. Desconhecia que o Oriental tem um site, fui lá cheirar e assim de repente pareceu-me mais bem feito e eficaz do que o SLB. Mas nestas coisas a minha opinião não é muito de fiar.
Também ir buscar o "Pipi" - anos 50 - por causa do Cruifft é de antologia...

filhote disse...

Na mouche, JC! O "Cruiff de Marvila" despontou no Oriental na época 1973/74! A mesma temporada em que o Sporting de Yazalde bateu o Benfica de Eusébio na final da Taça. Nesse jogo em que o "chirola de ouro" mergulhou como um peixe e fez o Jamor explodir, diante de um "Zé Gato" desconsolado.

Nem sempre o meu Glorioso vencia...

gin-tonic disse...

Caro Filhote: acabas de fazer alguma luz na metade do meu cérebro que ainda não está adormecido: entre Fevereiro de 1973 e quase metade do ano de 1976 terei vivido numa outra galáxia e depois uma grande ressaca.
Fevereiro de 1973 nascimento do primeiro filho, Janeiro e Fevereiro de 1974 estive a trabalhar em Bilbao, Março de 1974 o chamado golpe das Caldas, depois o “dia inicial, inteiro e limpo”. Até meados de 1976 foram dias vertiginosos, é provável que tenha dormido mas não me lembro.
Aqui desci à realidade, mas trazia no bornal um desencanto amargo. O saber que não voltaria a acreditar em coisas que acreditei, os sonhos de uma vida que morreram e talvez fosse altura de saber como aconteceu, mas receio ser demasiado tarde. Mas alguma coisa resultou, se só foi em parte, paciência…
Só, pois, grandes acontecimentos me poderiam fazer distrair do Glorioso. E foram! “Quem não viveu, esqueceu ou renunciou às delícias das ilusões desses dias nunca vai conhecer o exacto perfume das flores”, como escreveu o poeta. Acompanhei o Gloriosso mas numa de ao voo do pássaro. De qualquer forma continuo a achar estranho não haver uma ideia, mínima que seja, sobre o tal “Cruiif de Marvila”. Passarei algumas noites do próximo Inverno a pensar no caso.
O que o raio de um bilhete da CARRIS continua a fazer…

Jack Kerouac disse...

Caríssimo Gin, pelo que percebi desta troca de posts, o referido Cruif de Marvila nunca jogou no Glorioso, jogava mesmo no Oriental. O Filhote é que se terá lembrado dele quando falaste no Oriental. Penso eu que será isto...quanto ao sonho e ao acreditar nos amanhãs que cantavam, mal do Homem que deixe de sonhar. Ficará amargo como alguns que por aqui andam, e que se limitam a aguardar pela morte, sem cuidarem de viver.

JC disse...

Pois, meusa caros, o dito Crujiff de Marvila nunca jogou mesmo no Glorioso. e a parecença com o verdadeiro era mais física do que futebolística. Quanto ao Regério "Pipi", bem anterior, nunca o vi jogar, pois deve ter acabado a carreira quando eu comecei a perceber o que era a "bola". Mas acho ainda está vivo, felizmente. Durante anos, vendeu carros num stand da Ford ali na rua das lojas de ferragens (Auto-Boavista, acho. penso que era colega de trabalho do grande Zé Águas.

gin-tonic disse...

Caro Jack, caro JC, obrigado. Não é que fosse importante mas estava a ficar preocupado comigo mesmo por não lembrar o "Cruiff de Marvila" a jogar no Glorioso, como não o lembro no Oriental. À conta de toda esta descontraída e agradável conversa - gosto disto, O Miguel Sousa Tavares parece que não! - preeparei um long, long "Bombay", uma boa rodela de limão amarelo, tónica, muito gelo e que apens lamento não partilhar convosco. Talvez um dia... havemos de pensar nisso...
E, JC, o "Pipi" ainda está vivo e foi mesmo colega do José Aguas na Auto Boavista, ao cantinho, no mesmo prédio em que na outra esquina está a loja de ferragens e ferramentas.
A popularidade, tanto do Águas como do Rogério, assim como de outros, servia às mil maravilhas para vender carros. Não tenho carta de condução mas se a tivesse compraria, sem hesitação alguma, um carro a qualquer deles. Mas na hora de comprar a escolha recairia no José Águas, com um grande pedido de desculpas ao Rogério.

JC disse...

Vejam lá o que eu descobri:
http://bilhetes.no.sapo.pt/carris_operario.htm
e
http://passadocurioso.blogspot.com/2005/11/bilhete-operrio.html

gin-tonic disse...

Simplesmente comovedor...
Obrigado pelo interesse e pela paciência,JC

filhote disse...

São estas conversas que dão sentido há humanidade. Por estes fait-divers se descobre muito da essência da vida.

Certo, Kerouac, nunca disse que o "Cruiff de Marvila" tinha jogado no Glorioso, mas sim, no Oriental. E sim, JC, a semelhança era mais física que futebolística.