sábado, 24 de novembro de 2007

LET IT BE


"Let It Be", o derradeiro álbum dos Beatles, teve duas edições na altura, em 1970, e uma edição espúria em 2003 com o título "Let It Be... Naked".

Primeiro, a 08 de Maio de 1970, saiu com um formato inédito, invulgar, que consistia no disco propriamente dito, com capa, dentro de uma caixa com o mesmo formato e capa do LP e um livro de fotografias de Ethan Russell, "Get Back", nada meigo em termos de peso (PCS 1 e/ou P-PCS 1).

Os compêndios falam nestes números de catálogo (ou então também PXS-1), mas confesso que não o consigo descortinar na minha caixa.

Convenhamos que era (e é) um castigo abrir a caixa, tirar o LP e ouvi-lo. Por isso, há 37 anos que tenho o LP e o livro fora do seu habitat.

A caixa apareceu, importada, no mercado português, com a etiqueta Parlophone (silver) e custa hoje uma pequena fortuna - a última cotação que vi foi 2.160 euros em Dezembro de 2003 (Record Collector).

Originalmente, custava £2 19s 11d. Os britânicos protestaram contra o preço alto.

Seis meses mais tarde, a 06 de Novembro, o LP divorciou-se da caixa e foi vendido isoladamente (PCS 7096 e/ou P-PCS 7096), ao contrário do livro que permaneceu na caixa, entretanto desaparecida.

Na altura, obviamente que ninguém imaginava o valor que viria a ter, pelo que muita caixa - por esse Mundo fora - foi atirada para o lixo, já que era efectivamente um estorvo.

Paul McCartney nunca gostou da produção de Phil Spector, acusando-o mesmo de ter assassinado "The Long And Winding Road".

Vai daí, foi aos arquivos e numa atitude estalinista apagou Phil Spector, substituindo-o pela produção primeira de George Martin.

O resultado é "Let It Be... Naked", de 2003.

1 comentário:

josé disse...

Pois obrigado pela informação.
Em 11.12.2003m escrevi isto que segue no blog www.portadaloja.blogspot.com:

Intermezzo: uma história de maçãs - revista e alterada


O LP Let it Be dos Beatles saiu em Inglaterra no mês de Maio de 1970. Foi reeditado ao longo destes anos e tenho uma versão do Lp original, prensada na Alemanha, em 1970, com o nº 1C 062-04 433, cheia de riscos, pops e clicks. Porém, adquirido no ano passado em feira de vinil antigo...

A Portugal, o disco chegou uns meses mais tarde, incluindo a versão de luxo, numa caixa cartonada, contendo ainda um livrito de fotografias das sessões de gravação. Lembro-me de ter essa caixa entre mãos, na loja comercial Sonolar, radicada em Braga e com sucursais noutros sítios e de a apreciar com vontade de ter, mas sem poder. Talvez por isso, o álbum mitificou-se.
A capa era uma composição quadriculada dos quatro elementos, em fotografias coloridas sobrepostas a fundo negro e sem a menção ao nome do grupo. Só o título: Let it be.
No mês de Agosto de 1970, o nº 9 da revista Mundo da Cançãoque se publicava no Porto e era distribuida pela Livraria Bertrand, fez na capa, a amarelo vivo e azul desmaiado, a reprodução da capa do disco e no interior as letras de duas canções do álbum: The Long and Winding Road e Two of us.

No início dos anos oitenta, em Portugal, a Valentim de Carvalho reeditou o disco. Em vinil e como o fez em relação aos restantes discos dos Beatles, numa reedição graficamente pobre e pouco cuidada, mas de utilidade segura para quem os não ouvira na época em que sairam. Foi nessa altura, em que gravei em cassete algumas das canções dos vários LP´s que também ouvi integral e detalhadamente certas composições que antes me tinham passado despercebidas. Duas delas foram exactamente, Two of Us e The long and winding road e a sonoridade do Lp ficou gravada no ouvido interno..

Com o aparecimento do compact disc, logo no iní­cio de 1983, com o revolucionário CDP-101 da Sony, era fatal a passagem ao suporte digital dos discos dos Beatles. Porém, não obstante a edição japonesa e remasterizada, de alguns CD´s do grupo de Liverpool, como por exemplo o cd Abbey Road, em 1984, a reedição integral da discografia, realizada pela Apple e EMI, só veio a acontecer em Outubro de 1987. Com pompa e circunstância. Na altura, a caixa do Let it Be edição especial, de 1970, foi passada a caixotinho de madeira, com persiana de correr e mais uma vez suscitou vontade de ter, mas sem muito querer. Ainda se torna possível ver aqui e ali o tal caixotinho, perdido em discotecas antigas.
Lembro o deslumbramento das primeiras vezes em que ouvi o som do cd: em Espanha, num Corte Inglês qualquer e exactamente o Sony CDP-101, protegido num rack de componentes quase esotéricos, para realçar a magia sonora, afinal mais psicológica do que real.

Na mesma época, a revista americana High Fidelity publicava artigos sobre o que os seus exigentes crí­ticos pensavam sobre o compact disc. Comparavam os discos compactos com os LP´s reproduzindo estes em fabulosos Linn Sondek LP-12, com lendárias cabeças de leitura Shure V-15 Type V, no que só eram ultrapassadas pelos japoneses maníacos que manufacturavam essas cabelas de leitura para gira discos, montando-lhes autênticas jóias, em diamante puro e bruto e fios de ligas esotéricas e rebuscadas na tecnologia mais secreta.
Pois esses crânios punham lado a lado os mesmos discos - os primeiros, de música pop, foram o Bridge Over Troubled Water da dupla Simon & Garfunkel e 52nd Street de Billy Joel - a tocar em aparelhagem digital e analógica e faziam os seus aprimorados juizos.
Observações generalizadas: o cd oferecia um som de baixo mais rico e um som de percussão mais patente, mais tangível do que no LP. Porém, já alguns notavam na sonoridade das cordas da guitarra acústica de Paul Simon e nos solos de saxofone que o som do LP lhes parecia mais natural. Embora o som do compacto fosse mais detalhado e impressionante no poder de ataque ao ouvido, na balança da qualidade sonora, o LP ficava equilibrado e por vezes em vantagem. No entanto, era unânime a opinião que a ausência de pops e clicks e a facilidade de manuseamento e acesso às faixas, compensava a mudança de formato. O que veio a acontecer, rapidamente.

É por isso que hoje ouvi o recente Let it Be...Naked. O Let it Be gravado pelos Beatles, em estúdio e tal como terá sido entregue ao produtor americano Phil Spector, a fim de este lhe dar o habitual tratamento sonoro. A diferença pode agora ouvir-se. Durante anos a fio, pelo menos desde que a revista Rock & Folk, no número especial de Novembro de 1976 dedicado aos Beatles, escreveu a propósito do Let it be: "Du propre aveu de John Lennon , Let it Be, si les Beatles en avaient supervisionné la réalisation finale n´aurait rien eu de commun avec l´album que nous connaissons. Dans un instant d´indécision, le groupe confia les bandes du disque à Phil Spector, qui les emporta avex lui en Californie. Spector enroba de choeurs et de violons les morceauxs lents. Un peu plus tard, Paul McCartney se déclarait profondément déçu du traitement qu´avait subi The Long and Winding road."
Ora bem! Podemos agora ouvir e comparer e dizer se Paul McCartney tinha razão de queixa...ou não.

Ouvido e comparado o som desse cd e do cd saído em 1987, com o do Lp original de 1970 e o som de cassete gravada no já longínquo ano de 1982, do Lp de prensagem nacional saído nessa altura, qual a conclusão?!

Pois, apesar dos pops, clicks e do som um pouco mais embrulhado, a minha escolha vai para o som do...Lp de 1970! Isso quanto à qualidade do som em geral. A crí­tica da High Fidelity de 1983 ainda hoje é válida no que se refere à sonoridade do disco compacto:é mais versátil que o LP; o som por vezes é mais nítido e potente, mas falta-lhe uma certa doçura e ambiente sonoro intraduzível em zeros e uns.

E ainda outra constatação: o produtor Phil Spector que finalizou o master para o LP Let it Be fez um trabalho impecável e fantástico. Na minha modesta opinião, o McCartney não tinha razão: a versão de The long and winding road é mais poderosa, harmoniosa, equilibrada e perfeita do que a versão inicial e de estúdio gravada pelos quatro Beatles. O mesmo acontece com a composição de Lennon Across the Universe: prefiro a versão do Phil Spector, mas envolvida por sonoridades ambientes e ligeiramente mais arrastada.

A esta conclusão cheguei agora., depois destes anos todos e é mais um mito que se esboroa. Por mim , ainda bem. Let it Be.
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